sábado, 16 de agosto de 2008

Titre de séjour: cada caso é um caso

Pois é Diego,

Você bem disse: após a obtenção a entrada na França com um visto temporário de trabalho, a peregrinação pelo visto apenas começa.

Não que o processo que culmina para a obtenção do visto temporário seja fácil. Longe disso, é uma gincaninha burocrática que passa pelas seguintes etapas:

1. encontrar um empregador que realmente goste de você e que se responsabilize por lhe solicitar um pedido de visto enquanto você ainda está no exterior;

2. para justificar o pedido de visto, a empresa provar que você possui uma qualificação que não é encontrada na França. Para tal, a empresa publica um anúncio para a sua vaga no site da Agência Nacional para o Emprego, ANPE;

3. se em um mês não houver uma pessoa qualificada francesa que se candidate a esta vaga, ótimo: a empresa já pode entrar com um pedido de introdução de um salariado estrangeiro na "Direction Départamentale du Travail, de l’Emploi et de la Formation Professionnelle"(DDTEFP) do departamento francês onde se encontra. E aí, prepare-se para fornecer a sua empresa alguns documentos, como:

- cópia do passaporte
- fotos 3,5 x 4,5
- certidão de nascimento (obviamente traduzida para o francês em tradutor juramentado)
- cópia do diploma universitário e demais certificados que comprovem a sua especialização (obviamente devidamente traduzidos para o francês em tradutor juramentado)

É salutar negociar que sua empresa pague a taxa para obtenção do visto de trabalho (não tenho os valores atualizados, mas é mais que 1000 euros).

A partir daí, conte algo entre 2 ou 3 meses para que seu processo seja aceito ou simplesmente negado. Se a empresa fez a lição-de-casa direitinho, publicou a vaga e esperou um mês sem encontrar um francês para a vaga, é bem provável que seu dossier seja aceito e o seu contrato seja aprovado pela DDTEFP.

4. Dossier aceito, agora a batata quente está no colo da Agência Nacional de Acolhida a Estrangeiros e de Imigração, ANAEM, do departamento francês onde sua empresa está localizada, que seguirá com os demais procedimentos burocráticos que culminarão com a aparição mágica de um visto para você na embaixada ou consulado francês mais próximo do seu endereço de origem. Conte aí ao menos uns 40 dias de silêncio absoluto dos órgãos públicos franceses. Não adianta ligar: ninguém sabe, ninguém viu seu dossier;

5. Como um passe de mágica, um belo dia você tem uma idéia de ligar no consulado francês mais perto do domicílio de origem informado no seu dossier e descobre que lá está uma autorização para um visto temporário de trabalho;

6. Você se dirige ao consulado, e após descobrir que sim, é possível colocar 100 pessoas em fila em pé por 4h em um cubículo 4m x 4m sem ar-condicionado, você descobre que faltou um documento que te permita retirar o visto. Volte pra casa chorando, obtenha os documentos pedidos e volte no dia seguinte;

7. Parabéns! Sua persistência e capacidade de manter a sua polidez e fluência em francês em um ambiente hostil valeu-lhe o carisma do pessoal do consulado, que agora lhe oferece um copo de água e uma cadeira na área reservada aos funcionários enquanto eles procuram o seu dossier, que se perdeu embaixo de uma montanha de papel. 1h depois, eles encontraram o papel e você já está apto a fornecer suas impressões digitais. O que? Você não trouxe os 60 € da taxa X que todo mundo sabe que existe menos você? Tá bom, eles quebram o galho pra você e permitem que você saia correndo pelas ruas do entorno encontrar um caixa automático;

8. Agora sim! Você já tem um visto "France (+1 Transit Schengen)" colado no seu passaporte, com uma observação "Salarié ANAEM - Carte de séjour à solliciter dans les deux mois suivant l'arrivée".

Simples, né? Mas esse post não era para falar sobre o que vem antes, e sim, sobre o que vem depois, onde realmente começa a burocracia. Mas esse post ficou grande, vamos para o próximo.

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