quinta-feira, 26 de junho de 2008

Unicamp, a veadagem e os defensores da normalidade

Lá se vão mais de dez anos da primeira aula na Unicamp. Ainda me lembro da primeira aula de cálculo: um rapaz lá no fundo levanta a mão e o professor interrompe a aula pra perguntar o que ele queria.

- Professor, posso ir no banheiro? - para o desespero do professor.

Veio o segundo semestre, e as temíveis aulas de "Álgebra Linear", com o Ali. Ah, o Ali... o Ali era gay. Gay não. Sem estrangeirismos: o Ali era veado. VE - A - DO. Era não, ainda deve ser: gozava de uma união estável com seu companheiro já há alguns anos. Ali era exigente. A gente sofreu, falo por mim: fiquei para exame. Mas a gente aprendeu muito com o Ali: no dia em que saiu as notas da última prova, ainda lembro de um de nós, depois de pegar sua nota e ver que passou, falar com a maior sinceridade:

- Oh, professor, assim, ... , na boa, ... pra mim, veado não é homem!

Ali, um provador de teoremas por excelência, respondeu com a maior naturalidade:

- Por definição, veado é um homem que gosta de homem. Portanto, sou homem.

Nos semestres que se seguiram, Ali continuou professor e veado e continuou dando aulas das matérias básicas - cálculo II, cálculo III - e suas turmas seguiram sendo disputadas, porque ele é bom professor.

O que? Você se ofendeu com este termo chulo: "veado". Vai querer me processar? Ah, essas milícias puritanas do politicamente correto. Não precisamos chegar a esse nível: eu aqui ponho meus óculos, um avental branco de especialista e assim, substituo tudo pelo termo técnico-científico que define os padrões de conduta sexual humanos: "os homossexuais, os heterossexuais, bissexuais, os panssexuais, os metrossexuais, ... zzz..."

A partir de um blog em que sou assíduo leitor vejo que um ciclista foi espancado pela Polícia em São Paulo por pedalar semi-nu em protesto por mais prioridade aos não motorizados. Protesto, aliás, que foi ridicularizado pela mídia guardiã da "normalidade".

Ah, a normalidade... através de um jornal brasileiro na internet, mais uma notícia: "Evangélicos invadem Congresso contra projeto que criminaliza homofobia". Isso me lembra a onda de cartas de protesto enviadas aos jornais de Dubai que culminaram com a censura ao site do Orkut, site de relacionamentos do Google. Ah, as pessoas protestavam porque descobriram à altura que lá existia uma comunidade chamada "Dubai Sex"...

Os argumentos dos pastores são dignos de nota. Algo me diz que essa gente ia adorar morar em Dubai:

"Sabemos que há uma maquinação para que esse país seja transformado numa Sodoma e Gomorra [cidades bíblicas que teriam sido destruídas pelos excessos cometidos por seus moradores]. Um projeto desses vai abrir as portas do inferno"


(contra todo idealista, sempre uma conspiração mundial de prontidão)


"Esse projeto de livre expressão sexual abre as portas para a pedofilia. É uma afronta à Constituição e à família"


(quantas portas, minha gente!)

Paris, sexta passada: na volta pra casa, atravesso o Marais de bicicleta: em uma esquina, uma fila de homens de todas as silhuetas fazem fila na entrada de uma boate. Na outra, um casal feminino se beija na rua, em plena luz do dia. E nem por isso a mulher que vinha do supermercado com suas crianças mudou de calçada.

Isso não quer dizer que eu concorde com a lei: é triste ver que o Brasil ainda perca tempo (e recursos, salários de deputados, etc) discutindo leis para redefender o que já foi conquistado e deveria ser óbvio. Mas o que preocupa que isso é ver setores messiânicos da sociedade ganhando mais e mais espaço, controlando rádio e TV.

Viva as liberdades individuais!
Viva o Estado laico de direito!

Obs.: sim, mudei os nomes...

sábado, 21 de junho de 2008

Há controvérsias

Anônimo disse...

Hitler gostava tanto de Paris que mandou seus generais incendiarem a cidade...
Belo spin-off, Luisão!


Comentário enviado em 20 de Junho de 2008 07:06

Spin-off?! Leitor que fala difícil...

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Não!!!

Hitler fez isso? Não acredito!!!

Veja bem. Eu só falo o que vi, e o que lembro (sou ex-sheik, mas ainda tenho super-poderes).

Ecoa aqui pelas catacumbas de Paris que Hitler, sim, deu ordens para a "destruição total" da cidade. Mas foi uma ordem desesperada, de final de guerra, quando exército das forças aliadas (é notório como após a 2a Guerra convencionou-se a chamar de "Aliados" os vencedores e de "Eixo" o lado do "Mal". Um apelo claro ao sedimentado imaginário da 2a Grande Guerra. A única novidade neste ínterim é a palavra "terrorista") marchavam para tomar o controle da capital. Ordem que aparentemente foi ignorada por seus subalternos.

É fato que o líder alemão nunca escondeu sua admiração (e inveja?) pela cidade. Um interessante relato sobre a visita de Hitler à Paris está aqui ("Hitler Tours Paris, 1940," EyeWitness to History, www.eyewitnesstohistory.com (2008)).

É isso aí.

Razões para pedalar


Bicicletas de Paris: uma paixão em cada esquina.

Ou-là-là...
Oh-loh-loh...
hmmmm...

Coup de Foudre

- Mec, qu'est-ce que c'est Coup de Foudre?
- Booon..eeee... c'est quand tu tombes amoureux d'une nana à la prémière vue.

Mec - cara; o equivalente ao "pá" português
Nana - fille; garota, menina, mina
Coup de Foudre - amor à primeira vista

Nem no vôlei...


FIVB/Divulgação

Cansei desse negocio de discutir esporte com os franceses... Nem no vôlei a gente ganha mais!

Mas não importando o resultado, decidido no tie-break, o ambiente do jogo foi muito bom. O ginasio Bercy em Paris não estava exatamente cheio, mas contava com um bom numero de torcedores para um esporte quase desconhecido na França.

Os brasileiros também estavam em bom numero, e em algumas horas conseguiam fazer mais barulho do que os franceses. Enquanto os franceses gritavam "Allez, les bleus", os brasileiros respondiam carinhosamente com "Chupa!" a cada ponto perdido pelos nossos rivais...

Por falar em barulho, demorou dois sets para que as duas torcidas entrassem realmente no espirito da partida e participassem de cada ponto. Antes parecia haver uma especie de "respeito demais" no ar, que foi mudando a medida em que o jogo foi se aproximando do seu climax.

E no final a vitoria veio pra quem errou menos serviços, colocou mais bolas na quadra adversaria e, na minha opinião, demonstrou um pouco mais de vontade.

Pois é, paciência...

Agora so' falta o Massa ficar atras do Bourdais no GP da França de amanhã...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Machin

- Bon.. eeee... et donc, tu mets une figure ici et parles du truc, machin, et voilà...
- D'accord... mais... qu'est-ce que c'est machin?
- Machin? C'est un BIDULE, un TRUC. Une CHOSE.

Machin - uma coisa, negócio, trolha. Também utilizado para pessoas, com o mesmo sentido em que se emprega a palavra coisa em português: "Aquele coisa passou aqui ontem."

Não confunda: moquette x quéquette


Nous vous rappelons que cet après-midi, le 3ème étage sera interdit à raison de substitution des moquettes.



Moquette - um tipo específico de carpete. No caso acima, aquelas placas acarpetadas de piso-falso muito comum em edifícios empresariais com menos de 10 anos (que em Dubai começava a descolar, envergar e ninguém trocava, até alguém tropeçar e derrubar o café no chão).
++++++++++++++++++
- Xavier, qu'est-ce que c'est une quéquette?
- Quéquette?!... une BITE!


Quéquette - termo vulgar e corriqueiro para referenciar o pênis; maneira como jovens do sexo masculino referenciam a própria genitália em "conversas d'homem"; pila, pinto, jeba, piroca, meninão.

Para saber mais:

- Para comprar moquettes em Paris: La Moquetterie
- Música no YouTube: J'ai la quéquette que colle

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Vôlei sim, mas não vá esquecer que...

... sábado tem Fête de la Musique, quando todo francês monta um grupo musical e sai às ruas para celebrar o início do Verão. O bom de chegar na França no verão é isso: a França no seu melhor...

Bola na rede é ponto! Ou gol?


E a minha primeira contribuiçao para o Paris F.C. é um post sobre... o volei, é claro!

Porque pra falar de futebol aqui é um problema. E vamos para a minha regressao...

O legal da Europa é que em periodo de Copa do Mundo (ou Eurocopa) a discussao de futebol de seleçoes é acalorada como as discussoes de clubes no Brasil. Embora tenha perdido o imenso interesse que tinha quando criança (chegava a ficar triste quando o Corinthians perdia, meio deprimido até...), futebol ou outros esportes sempre sao bons assuntos para quebrar o gelo ou para matar o tempo.

Pelos paises serem mais proximos e ser mais misturado que no Brasil, sempre tem um italiano, ingles (ou brasileiro) pra contrapor as opinioes.

Eu lembro da Copa de 2002, quando o Brasil (meio que roubado) ganhou da Belgica nas oitavas de final. O Casseta & Planeta saiu às ruas para perguntar se os brasileiros conheciam algum belga pra tirar sarro da derrota. Como ninguem conhecia, apresentavam um canario belga, ou uma couve de Bruxelas!!

O fato é que desse lado do oceano bem ou mal voce acaba conhecendo um de cada pais, mais ou menos como no Brasil tem torcedor de todo time (embora eu nunca tenha visto um torcedor da Portuguesa !)

E ai eu chego no motivo do porque aqui na França é mais complicado falar de futebol. Enquanto que em todo o mundo todos conhecem a seleçao brasileira de futebol e a admiram, mesmo em ma fase, como o atual quarto lugar nas eliminatorias, aqui eles consideram a seleçao francesa a pior de todas, mas quando tem jogo contra o Brasil, eles tem a certeza da vitoria !

Basta olhar o retrospecto... Das ultimas seis copas, o Brasil ganhou duas (nada mal), e foi eliminado uma vez pela Argentina, em 90, e TRES vezes pela França... Nao é nada, nao é nada, mas... é por isso que o que importa é o volei !!!!!!!!!

E pela fase de grupos da Liga Mundial, que o Brasil venceu as ultimas cinco ediçoes, a seleçao do Bernardinho vem a Paris para fazer dois jogos neste fim de semana, sexta e sabado. Eu ja garanti meu ingresso para amanha!

Depois postarei fotos reais, nao fotos roubadas descaradamente da internet como a acima!

Quicando a bola


Pois é,

E assim começa o Paris Futebol Clube. "Começa" não é o verbo mais apropriado: Paris F.C. é uma continuação de duas outras experiências: o Expatriando, editado pelo Diego, e Dubai Futebol Clube.

Muito se escreve e muito já se escreveu sobre Paris (inclusive para dizer que "muito já se escreveu sobre a cidade"). Dias atrás, deu no jornal: Chico Buarque está na cidade "para escrever seu último livro"... a idéia é quase a mesma: viemos a Paris exclusivamente para escrever este blog. Mas como nossos direitos autorais aindam não pagam nem o café, cada um procurou um trabalho secundário para pagar as contas (a edição do blog em primeiro lugar!).

Paris, cidade de gente importante: Marta Suplicy e Paulo Maluf, quando tiram férias, passam uma temporada na cidade. Hitler bombardeou Londres... mas preservou Paris. Fernando Henrique Cardoso - oh! oh! oh! - passou pela Sorbonne. E como ele mesmo disse certa vez diante do congresso francês: "Vive la France!".

Vive la France, amiguinhos. Vive la France. Diego, agora é contigo: chuta pro gol que a bola é tua.