quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Bye, bye London?!

Acabo de saber por esta reportagem publicada no Le Monde que a libra esterlina chegou ao fundo do poço: 1 € = 0,90 £.

Aliada à promoção do Eurostar (25 mil bilhetes à Londres em janeiro à 77 € à venda à partir de 26 de dezembro), eu tenho outra teoria: é hora de dizer Hello, London!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Fel

Olá meu diário,

São 01:42h da manhã. Sim, vou chegar atrasado amanhã. Foda-se, que dia escroto. Um "amigo" vem com a novidade, tirando barato da minha cara:

- Já sabe a novidade? Ela pediu demissão e está indo para a Austrália.

Lembro como se fosse hoje, quando ela voltou da Grécia:

- Então... eu te traí...
- Com quem?
- Com um autraliano.
- Mas e aí?
- Não, não rola mais nada... ele é de muito longe. Nem rola mais nada, foi só uma aventura...
- Usou camisinha?
- ?!?!?!?!
- ...

Já passou 4, 5 meses. 6 ou 7 mulheres. Já deveria ter passado.

Ela era a Terceira. Que coincidência: sexta passada fui a um bar: encontrei a Sexta com um outro cara. Nem doeu tanto, talvez porque pulei fora ao primeiro sinal de naufrágio. Ou simplesmente porque paixão mesmo foi a Terceira. Como toda paixão, coisa rara, para minha sanidade mental. A miséria da humanidade é se apaixonar, ou pior, acreditar nessa história de amor. A Quarta jogava limpo, sincera: "tenho fetiches", dizia. Queria me ver com outra. "Mas não vamos planejar, tem que acontecer". E por que não me apaixonei por ela? Legal, imagino-me já, com duas, lambendo os beiços. Mas não rolou, paixão não acontece assim, né? Meu querido diário, a próxima vez que eu aparecer com esse papo de que parece-que-achei-uma-mulher-perfeita, por favor: encha-me de porrada.

O pior da traição não é a infidelidade em si: é o premeditado engano. Esse fazer de conta que somos tudo, essa desnecessidade de ligar num domingo de manhã para dizer "tu me manques", quando no seu âmago, é apenas um artifício para te prender, até achar uma nova fruta, um novo otário, um novo produto na prateleira. E aí, cai a máscara: "desculpa, mas...". Sejamos francos: para uma aventurazinha, podemos ser claros: é só isso e aquilo e nada mais. Pronto! Ninguém cria ilusões. Contrato assinado preto-no-branco. Mas não, precisa deixar a escova-de-dente no banheiro, deixar a chave da casa, levar a mochila, a câmera, ...

Tenho uma teoria: a Europa é uma grande Disneylândia para adolescentes. Terra de pseudo-adultos, infantilizados pelo excesso de conquistas das últimas gerações. Tudo é fácil: eu paro de trabalhar e tenho um salário-desemprego de 80% do salário. Eu posso dizer 'foda-se' e sair por aí, pois volto e tenho meu emprego. Eu posso cruzar fronteiras, e não importa onde eu vou, sou aceito, pois sou o escolhido: sou Europeu. Todos me desejam. E o que são os outros? Sul-americanos, africanos, asiáticos, ... frutas de sabores distintos. E só.

Deixa essa teoria pra lá. Aconteceram coisas boas: recebi um SMS de Dubai "How are you?". O telefone tocou: o amigo ciclista mal chegou em Paris e já foi expulso da casa de uma menina. Eu rio quando nesse teatro, essas garotas fazem-se de ofendidas. Talvez seja isso o que elas procuram: a vivência cênica. Ainda assim, melhor que Dubai: aqui ao menos não é necessário pagar champagne, bolsa Louis Vitton, ...

Duas da manhã. Agora sim, vou dormir e acordar tarde, e chegar tarde, e trabalhar fazendo cara feia. E quer saber? Nem vou voltar a escrever nessa sessãozinha de merda de diário de merda. Eu pensei que já tinha superado essa história da Terceira. Mas hoje isso me virou o estômago. E que não venha com e-mail de despedida, de querer sair bem na foto, de final feliz. Vai levar um "vai se foder" na bagagem pra Oceania.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Neve



Isso foi na terça-feira.

Em 5 parágrafos

Bom dia, meu querido diário,

Primeiro parágrafo - as regras do jogo - Já começo dizendo quais são as regras do jogo hoje: apenas 5 parágrafos. Imponho-me uma disciplina, que é para não te cansar.

Segundo parágrafo - sapin de nöel - Já era meio-dia e meia da madrugada quando tocou a campainha. Ou o celular, ou o telefone. Ou o despertador. Atendi o interfone. Era o concierge: "Chegou uma encomenda para você. Oba! Lá embaixo, maior algazarra: a petizada montava junto com Laurent a árvore de natal. Para eles, o natal é um grande evento. Para mim, um dia como outro qualquer. O que foi que se perdeu nesses anos todos, que não consigo mais sentir aquelas cores distintas dos dias especiais? Talvez seja essa a função das crianças: na certeza de suas fantasias, levar os mais velhos a reviver as cores mágicas dos Grandes Dias - Natal, Ano-Novo, Páscoa, Festa Junina, Ramadan, Eid Al Fitr, Eid Al Adha, No Ruz, a festa da Yalda, Chaharchambeh suri, Quarup, Diwali, Carnaval, Aniversários - aos quais esperam impacientes. Hoje, espero impaciente apenas as minhas férias. E curiosamente, reluto em marcá-las.





Terceiro parágrafo - livros! - apesar das cores opacas, hoje é um dia especial. Chegaram os livros que comprei pela internet. Mais de 2500 páginas. Se eu ler 25 páginas por dia, são 100 dias de leitura, o tempo que levou para Amir Klink atravessar o Atlântico a remo:



- Fragments d'un discours amoureux, Roland Barthes - dica da minha irmã e citado em um livro de psicanálise que li. Fiquei curioso...
- Le Brésil, terre d'avenir, Stefan Zweig - a primeira vez que ouvi falar dessa austríaco que se suicidou com a esposa no Brasil foi na casa do Danilo, em Nice. Depois ele seria também citado no último livro de psicanálise que li, mas por conta de um outro livro...
- Le joueur d'échecs, Stefan Zweig - sim, é esse o livro que foi citado.
- Du côté de chez Swann, Proust - esse é o primeiro tomo dos sete que compõem "À la recherche du temps perdu", escritos ao longo de 30 anos. Livro parrudo de letras diminutas. Linguagem soutenu. Começo a entender por que ninguém o lê.
- Le rouge e le noir, Stendhal - estamos entrando no terreno de "gente grande"... será que eu consigo?
- De l'amour, Sthendhal - eu ia encomendar "La Chartreuse de Parme", mas na última hora troquei por esse aqui.
- The waves, Virginia Woolf - o único em inglês. Mais um citado no livro de psicanálise que li. Você sabia que ela se suicidou em alto estilo? Escreveu uma carta para o marido, encheu os bolsos de pedra e entrou em um rio.

Tudo bem. Eu sei que pulando uma linha assim eu caracterizo um novo parágrafo. Mas pra mim, é como se fosse o terceiro ainda. Eu sei que você me perdoa. E você deve se perguntar: que livro é esse de psicanálise? L'incapacité d'être seul - essai sur l'amour, la solitude et les addictions, de Catherine Audibert. Ela afirma que alguns eventos - morte, fim de relacionamento, mudança de país - reavivam sentimentos de solidão-angústia em indivíduos que não amadureceram na infância a sua capacidade de estar bem só. Neste contexto, as atividades viciosas - e o vício ou compulsão pode ser por qualquer coisa: uma droga, uma relação amorosa, sexo, remédios, comer, não comer, escrever, correr, pedalar, nadar, comprar - serviriam como um mecanismo de auto-proteção psíquica que impediria o sujeito de enlouquecer. BINGO! E sigo aqui escrevendo, tomando o meu café, com você ao meu lado. Vício? Ao menos estou sentado. Parece que Fernando Pessoa escreveu Mensagem de uma tacada só, de pé, escrevendo em uma prancheta. E eu não sou Fernando Pessoa, nem quero ser; já sou alguma coisa: sou engenheiro. E olhe lá.



Quarto parágrafo - la bouche souceuse - Sim, eu tenho um certo preconceito a quem cita os outros: parece que está enchendo linguiça. Ou melhor: tentando "pegar carona" na fama alheia. Como se o fato de ter lido um Grande Clássico confira alguma qualidade às merdas que se escreve. Mas vai ver se você encontra alguma referência a outros em Grandes Sertões, por exemplo. Não há. Ou melhor, eu não vi. Vixi, mas isso já é uma citação... mas eu reconheço: tenho citado muita coisa ultimamente. Mas eu posso: enquanto escritor, sou ótimo engenheiro. Mesmo que nenhuma das minhas atividades sejam relacionadas à engenharia. E tenho que pagar CREA. E uso e abuso do status que isso me proporciona. Tenho que aproveitar; na faculdade, as meninas me perguntavam:
- Ei, você é músico?
- Mais ou menos.
- Que instrumento você toca?
- Eu toco teclado...
- Que legal! O máximo teclado...
- ... de computador...
- Ah tá - entenda-se "piada sem graça" - ... mas de que curso você é?
- Engenharia de...
- Ah, tá... entendi.
E acabava por aí a conversa... meses sem beijar. E nas aulas, aquele volume asfixiante de homens, que falavam de futebol, carro e bundas das meninas-máquinas das revistas (que de tão perfeitas, não me atraíam). Alguns falavam de computação, e eram insuportáveis. As meninas que me atraíam eram justamente aquelas que não se maquiavam, que combinavam um cachecol de lã verde com botas pretas e um casaco de brechó, ou que de um dia para o outro, raspavam a cabeça. Imprevisíveis e elegantes na simplicidade. Naquela época, cheguei até a ler algo sobre Brecht, com o único fim de ter algum pretexto para copular com as garotas das Artes Cênicas. Mas entenda, diário: naquela época eu ainda não tinha essa boca inflável - bouche souceuse - e pensava ainda que precisava ter uma mulher interessante ao meu lado, alguém que fosse uma fonte infinita de descobertas e soubesse beijar sem por isso ter mau hálito, para conseguir suportar o peso dos dias. Mas hoje, com o dinheiro que a vida de "engenheiro" me proporciona, descobri esse brinquedo. Quando sinto falta de beijo, tiro ela do bolso e smuááác. E ouvi dizer que tem gente que em vez de beijá-la, põe o pipi dentro. Que nojo, meu diário! Já imaginou, você, esfregando a glande do pipi na borda de um copo e depois indo lá, com a maior naturalidade, e ... beber água? Há gente que vai argumentar - "mas são todas substâncias suas" - oras... mas eu entendo a sua incompreensão: diário não tem pipi, não tem braços, só páginas de papel e um elástico que fecha a capa.

Quinto parágrafo - tiro ela do bolso e muááác... certa vez disse isso diante de uma portuguesa e ela riu derisoriamente - "vocês falam como crianças. Meu filho também fala assim". Está bem, diário. Se isso te faz feliz, mudo: "Tiro-a do bolso e muááác". Mas soa estranho. "Tiro ela" pode soar feio, mas é mais natural. E agora, chega: são quase 15h, e ainda tenho que lavar e passar roupas, lavar louças, andar de patins e bicicleta e limpar o apê e sair à noite e dormir cedo. Você sabe que não vai dar tempo, e eu também. Mas a vida é assim, cheia de planos. Alguns realizáveis, outros não. Fui.

Paris - zero grau

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Meu querido diário

Pois então,

Começo hoje mais uma nova sessãozinha, "Meu querido diário" (sim, inspirado um pouco por um livro de Bukowski que venho de ler que de tão mal humorado, é engraçado).

Os acentos? Você corrige o que está escrito em seu diário? Oras... enfim, publico sim, e depois corrijo. Intchallah... pourvu que... eu poderia bem deixar o post como "rascunho" e corrigir depois em um teclado QWERTY com todos os meus saborosos acentos, como às vezes faço com outros posts. Mas com esse aqui não: simplesmente porque diferente dos que escrevem em seus diários, não escrevo para não ser lido. Nao, eu não escrevo para mim: escrevo para você, para ser lido agora, no ato, querido leitor inchirido.

Inchirido? Enchirido? Enxirido? Inxerido? Eu ja procurei no dicionário e não achei. Mas essa palavra existe sim, pelo menos pra mim: eu posso até vê-la dançando de tanguinha (vermelha), peitos fartos (topless vermelho) e dizendo com batom (vermelho): "você me ouve, logo existo".

Notas da revisão: é enxerido! Valeu Lou!

Diego! Você sabe: como tudo por aqui, "meu querido diário" é sua também. O que é seu é meu, o que é meu é seu. Ou quase: sem essa de querer pegar no meu e dizer que é seu que isso não vale. Mas pode esvaziar o seu sótão como se você realmente não quisesse que outros lessem, ou os gráficos mais infames que afligem sua alma, como aquela dor-de-barriga que so se acalma quando o bicho sai.

Então eu começo:

Meu querido diário, (escrevo em lápis verde concentrado na caligrafia, olhos esbugalhados e lingua saindo pelo canto da boca).

Dez de dezembro de 2008. Hoje, quando saí do metro, pensei: vou escrever no blog. Um texto quase poético, talvez. Pensei em tom grave: "Entrei no metro era noite, era noite. Quando sai, ja era dia, era dia".

Pronto. Respiração profunda: "sou inteligente! Sou sentimental! Puxa!". Andei mais uns metros ainda na estação, um Napoleão: comigo, ninguém pode. Outra idéia: completar com duas fotos: uma, no breu, às 8h, e outra no claro, às 9:50h. Clic!



Mas eu não tirei a foto às 8h... droga.

O RER hoje estava comportado: apenas 20 minutos de Gare de Lyon até Rueil. Ontem, foi quase 40. Ao menos o maquinista de ontem (ou condutor? Da pra chamar assim alguém que pilota uma alavanca?) tinha bom humor. Ou mal, não sei, mas era engraçado: todo mundo ria com seus anúncios:

- Coragem, senhores passageiros! Aguardamos aqui alguns minutos ainda a saída de um trem a nossa frente em Chatelet.

- Bom, eee... eu vos peço um pouco mais de calma, senhores passageiros, aguardaremos ainda mais uns minutos aqui antes de Charles de Gaule-Étoile. Eu sinceramente não sei a razão pela qual hoje estamos um trem atrás do outro, tão devagar, mas bom, eu vos convido a entrar no site do sindicato dos transportes e deixar uma pequena mensagem com seus sentimentos, dizendo qual é o seu RER preferido. Quem sabe assim alguém faz alguma coisa...

- Apertem os cintos, senhoras e senhores! Agora iremos um pouco mais rápido: incríveis 60 km/h. Atenção!

Sabe? Eu gosto dessas pessoas que conseguem transformar um trabalhinho horrendo em algo diferente, atraente, engraçado. Li em um livro hoje que isso se chama "criatividade". Ele poderia ter se resignado a sua função de conduzir a maquina, mas com sua presença de espírito, fez um monte de gente rir perante o tédio quotidiano. Uma andorinha não faz verão, mas para quem estava naquele trem naquele momento, ele fez diferença.

Trem engraçado e confortável: ontem vim sentado até La Défense. O trem era de dois andares e seguia até Cergy. Em La Défense peguei o habitual, que chegou lotado de gado. Hoje foi um lixo: apertado como sardinha em lata até novamente La Défense. A vantagem é que não havia nenhum músico no trem.

Sabe? No horario de ontem, às 10:30h, o trem já vem mais vazio. Quando eu ouvi aquela voz ("Mesdames, Messieurs, excusez-moi de vous déranger..."), eu ja previ os atos seguintes: a mesma gravação de pianinho. A mesma voz. As mesmas 2 músicas em espanhol. Eu ja devo tê-la ouvido uma dezena de vezes. Sim, a primeira vez eu me emocionei e dei uma moedinha. Mas depois da terceira ...

Ando mais um pouco na estação. Penso de novo na brilhante frase que havia pensado para um post: "era noite, era noite... era dia, era dia"; veio-me a cabeça uma musica do Rappa. Que merda de post. Coisa de fracote sentimental; snif, snif. E ainda sem a foto das 8h. Que lixo de pensamento. Quer saber? Não vou publicar esta merda, quisera eu não ter pensado em coisa tão ridicula. Quer saber mesmo o que eu fiz? Quer saber? Entrei na padaria. Não, hoje não vai ser pain aux raisins. Hmmm... esse baguette com queijo brie fatiado parece interessante...

- Un pain au frommage, SVP (s'il vous plaît)

Ela me entrega não a com queijo fatiado, mas uma baguete de queijo. Déjà vu, parece que estou em Dubai onde ninguém se entende. Tant pis, c'est pas grave, o pão estava gostoso também, quentinho, acompanhando o meu expresso no corredor. Mastiguei-o olhando o frio la fora pela janela: no marcador, 3 graus. Fez-me lembrar que ontem nevou na hora do almoço...

... esta vendo? Isso aqui nunca tem fim: vem uma coisa após a outra. Então paro por aqui, assim, bruscamente.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sapin de Nöel



Mon cher arbre,

Ne crée pas des illusions : il a toujours été comme ça, il toujours le sera. Lors du moment de la conception, dont ton grain a touché exprès la terre, tu es déjà venu au monde avec un but unique : naître pour mourir.

Mais ne déséspère pas maintenant, séparé de tes racines, lorsque tu attends devant la porte un acheteur. Un enfant viendra e dira au père : "on a besoin de lui!". Et ainsi, ton grand jour viendra: ornementé de brillantes et réfléchissantes boules de verre rouges, tu sera les centre des attentions dans un coin d'un salon. De moins jusqu'à la Nuit de Veille.

C'est ça, mon cher arbre. On dit ici que dans la vie on a besoin d'avoir un but clair, écrit sur les murs pour que durant les folies dispersantes de la vie quotidienne, nous ne l'oublions pas. Et ta vie a déjà un : donner de la joie aux gens que t'achète. Comme une laitue, qui est née pour être mangée. Et plus que ça : garantir le solde à qui te planta, à qui te coupa, à qui te transporta, à qui te vendit.

C'est ça: tu as déjà un but dans la vie. Il y a des gens qui passent tout leur vie en le cherchant et meurent sans le trouver. Mais ne crée pas des illusions : tu es né pour mourir. Quelques jours après le grand jour, alors fragile et deshydraté, tu laissera tomber par terre les premières feuilles sèches; tu sera lancé à la rue dans ta bière, à l'attente de la Proprété Urbane. Et encore une fois, tu aura de quoi à être fier : tu garantira la fonction de celui qui vont recueillir tes restes, ceux dont le but de leurs vies n'est que celui-là.

Pour le moment, respire à fond et souris aux possibles acheteurs. Ton grand jour viendra et passera. Inexorablement.

Pinheiro de Natal

Minha cara árvore,

Não crie ilusões: sempre foi assim, sempre será. Desde o momento da concepção, em que sua semente intencionalmente atingiu a terra, já veio ao mundo com um único objetivo: nascer para morrer.

Mas não se apavore agora, separada de suas raízes, enquanto aguarda enfileirada em frente à porta um comprador. Uma criança virá e dirá ao pai: "a gente precisa dela!". E assim, seu grande dia virá: enfeitada de reluzentes e espelhadas bolas de vidro vermelhas, será o centro das atenções em um canto de sala. Ao menos até a Noite de Véspera.

É isso, minha cara árvore. Dizem por aqui que a vida precisa ter um objetivo claro, escrito nas paredes para que nas loucuras dispersantes do quotidiano, não o esqueçamos. E a sua vida tem um: dar alegria às pessoas que a compram. Como um alface, que nasce para ser comido. E não só: garantir o sustento de quem a plantou, de quem a cortou, de quem a transportou, de quem a vendeu.

E isso: você já tem um objetivo na vida. Há pessoas passam a vida toda procurando um, e morrem sem saber. Mas não crie ilusões: você nasceu para morrer. Dias após o grande dia, quando frágil e desidratada, deixará tombar ao solo as primeiras folhas secas, será lançada à rua em seu ataúde, à espera da Limpeza Urbana. E ainda neste momento, terá de que se orgulhar: garantirá a função daqueles que recolhem seus restos, estes cujo objetivo de suas vidas é justamente este.

Por ora, respire fundo e sorria aos possíveis compradores. Seu grande dia virá e passará. Inexoravelmente.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sirenes e a paranóia

Quarta-feira, meio-dia: as sirenes começam a soar. Uma, depois outra, e mais outra. Sirenes sincronizadas. Ataque aéreo? Nuclear? Ataque terrorista? Tsunami no Sena?

Nada disso: as sirenes de alerta são testadas em todo o território francês toda primeira quarta-feira do mês. Muito bem!!!

Mas... e se um ataque ocorrer justo na primeira quarta-feira do mês? Quem vai saber?

"Viver é perigoso", já disse Riobaldo.