domingo, 30 de novembro de 2008

Massagem


Aeroporto de Orly: 2 € para uma massagem cibernética em uma poltrona automática.

Em Dubai isso custava 1 dirham...

Bela conquista



As mais belas conquistas não se fazem jamais totalmente sozinho.


Perguntar não ofende: será que essa propaganda foi publicada também na América 'hispânica'?

Breaking News!

Atenção, Breaking news: Neve. NEVE. Eu disse NEEEEVE em Paris!

É 1:30h da manhã, o caos se instala na cidade, quase um ataque terrorista: uma montanha de neve que cai do céu soterrando os inocentes transeuntes. É preciso um trator da prefeitura para liberar os pobres contribuintes dessa ameaça impura...



...

Ei... mas o que você está rindo?! Que estória é essa de ficar aí pulando na neve?! Parece... parece... índio?! Parece... caipira?! Parece um... um jacu?!



Jacu... Ianomami...



Ei! Mas o que é isso? São 3h da manhã e... bom, eu não estou tão sonolento assim. O que é essa menina de meia-calça vermelha vestida de pintinho no caixa eletrônico?!

Não, não deu para tirar foto. Mas o que é isso?! Esse queixo não é feminino!

QUE HORROR! TERRORISMO! Um homem vestido de meia-calça vermelha, e fantasia de PINTINHO, às 3h da manhã. Já entendi: um PINTO na CHUVA.

Pinto... jacu... caipira... ianomami...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O centenário de Lévi-Strauss

Hoje é o centésimo aniversário do belga Claude Lévi-Strauss, homem que, dentre outras coisas, foi um dos primeiros professores da USP.

Lévi-Strauss foi integrante da "missão francesa", grupo de professores que vieram lecionar na Universidade de São Paulo quando de sua fundação. Aqui na França, ele é objeto de documentários na ARTE, exposição no museu Quai de Branly, de reportagens.

Estas experiências em um Brasil da década de 30 levariam o jovem professor a escrever 20 anos mais tarde o livro que o tornaria conhecido(Tristes Trópicos, segundo alguns o melhor livro já escrito sobre antropologia, justamente porque não é um livro de antropologia).

Em 2004, deu uma entrevista à Folha, em que fala do país e das experiências que teve por aqui. Veja aqui uma cronologia de suas vida (adoro essa coisa de internet, de poder colocar um referência a um outro texto).

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Temperatura em Paris na noite passada

Paris, cidade-luz

Paris, um dia de verão, 19h:



Paris, dias atrás, 07:45h:



Alvorada: 08:10 h
Por-do-sol: 17:14 h
Temperatura: entre 0 e 7 graus (ontem nevou)

Cidade-luz... adoro esse adjetivo. Enfim, é preciso um inverno rigoroso para compreender porque os animaisinhos se acasalam durante a Primavera.

Bojolé nuvô!

Uma garrafa acompanhada de amigos e um prato de "charcuterie et fromage":

19 €

(atenção! Cada um paga uma!)



Preço médio de uma garrafa no Carrefour:

3 €

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Para os turistas desavisados...

Não é so no Brasil que uma coisa custa mais do que ela vale em função da distância...

Le beaujolais nouveau est arrivé !!!

Acabei de comprar uma garrafa no Nicolas.

Comparando com um comentario anterior, sobre a chegada no "Mistral":

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Graficos

Eu sei, eu sei... Era para ser um blog a quatro mãos (mãos! eu consigo escrever os acentos com o AZERTY... leva tempo !), mas o Luis acaba fazendo o trabalho todo quase que sozinho...

Pra retomar minha participação, eu vou começar uma nova seção no blog compartilhando uma paixão que eu tenho desde pequeno (quando fazia isso pra me divertir com meu irmão): humor com graficos !

Recentemente descobri que não sou o unico. Então, para os anglofonos, recomendo: http://graphjam.com/

E aqui vai o meu primeiro:

Expectativa



Propaganda do Beaujolais Nouveau em Nanterre.

No trabalho, pululam e-mails como esse:


Banane ? Fruit des bois?

quel gout aura le beaujolais cette année?

rdv jeudi au petit vendome

c'est a coté du kitty o shea, rue des capucines


Bom, é isso. Depois comento os preços.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A chegada do Beaujolais nouveau

Reserve a quinta feira da proxima semana para uma saida pelos bares e restaurantes de Paris: é dia de "festa tradicional", quando todos saem pelos bares para comemorar a chegada ao mercado da safra anual de Beaujolais nouveau. Toda 3a quinta-feira de novembro é assim.

Beaujolais nouveau não é qualquer vinho, o que não significa necessariamente que seja bom: é um vinho "jovem e frutado", o que pode decepcionar o paladar mais exigente que não abre mão de seu Côte du Rhone. Mas é tradição, e tem que ser bebido assim, entre amigos, aguardando a meia-noite, virar o primeiro gole com cara de quem entende e depois soltar o seu comentario de connaisseur (atenção para os trejeitos obrigatorios: pestana levantada, olhos semi-fechados mirando o infinito) - Uéééooo... esse aqui tem um sabor irreverente, peralta, que pica um pouco, deixando um suave buquê de framboesa na boca... - agora tombando a cabeça para frente, dando um toquinho com o cotovelo no amigo ao lado com um riso maroto, você conclui - ...um autêntico Beaujolais nouveau, oh, oh, oh!

E depois volta pra casa fazendo "S"s com a Vélib.

*-*-*-*-*
Os acentos? Fica pra depois. Não da pra fazer milagres em um AZERTY.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Alma-Marceau: a viagem de Maura

E a moça sorri do outro lado do vidro, estendendo duas folhas ao rapaz que as toma e segue para uma das cadeiras da sala.

- Por favor, senhor, preencha estes formulários e retorne sem pegar fila.

À espera, uma senhora ao lado corta a frente dos demais.

- Por favor, para renovar o passaporte o que é necessário? Eu tenho uma viagem marcada...
- Quando você viaja?
- Hoje. Eu estava no aeroporto e fui barrada. Meu passaporte está vencido.
- Mas olha, você precisa fazer um pedido de renovação. E isso leva alguns dias...
- Mesmo em caso de morte?

Morte. Palavra forte. Na sala todos que a ouviram pararam de conversar. Silêncio. A atendente pede licença ao rapaz que atendia - attendez un peu, s'il vous plaît - e dirige-se ao outro guichê, vazio, onde a senhora se senta.

- Neste caso, podemos emitir-lhe uma autorização, e a senhora viaja hoje mesmo, tá?
- Tá.
- Aguarde um pouquinho que já volto.

Ela vai até o armário e volta com dois formulários.

- Agora é só preencher, colar uma foto que você pode tirar naquela máquina ali e voltar aqui com uma cópia de documento seu, sem pegar fila.

O rapaz volta ao guichê e entrega os formulários preenchidos.

- Ótimo. Aguarde apenas que já te dou o seu recibo.

Recuando um pouco, apóia-se no balcão e relaxa o corpo, ao lado de uma senhora que segura duas folhas brancas.

- Moço... você pode me ajudar?
- Sim, claro.
- É para preencher os formulários.
- Sim, - diz ele examinando as duas folhas - mas não há muito o que fazer. São apenas informações pessoais... aqui é o nome, aqui a data de aniv...

A senhora se aproxima mais um pouco, voz baixa, face rubra:

- Eu não sei ler.

Ele entendeu agora o seu desconforto e sentiu vergonha também: tivera talvez as oportunidades que ela não teve; talvez uma destas questões de tempo e local de nascimento que não se escolhe. Mesmo assim, ela seguira seu caminho e estava ali, tal como ele.

- Faz tempo que a senhora está aqui?
- Muito tempo, muito tempo...

Folha branca sobre o balcão.

- Nome?
- Maura Célia de Jesus Bastos. Olha - na mão um registro de identidade - aqui estão minhas informações.
- Marcelo Bastos... esse é seu nome do seu pai, correto? Bom... é... por favor, minha senhora... não chore... - ele vai até seus pertences e volta com lencinhos de papel - para a senhora.
- Obrigado.
- Dulcinéia de Jesus Bastos. Sua mãe, né?
- Sim.
- Nome do marido?
- Ah, eu não sou casada.
- Profissão?
- Dona-de-casa.

Curioso: se ela não é casada, como pode ser dona-de-casa?

- Menagère, né?
- Isso. Dona-de-casa. Menagère...
- Está aqui. Agora só falta a senhora assinar.

Ela toma a caneta, acerta o óculos, papel sobre o balcão. Mão direita espalmada sobre a folha enquanto a esquerda esconde os traços azuis que agora aparecem do outro lado: "Maura Célia de Jesus Bastos".

- Bom, aqui está a outra cópia, é só assinar também. Boa viagem para a senhora, e... bom... não há muito o que dizer, mas... bom... mantenha a calma e faça boa viagem...
- Muito obrigado, muito obrigado! - abraço forte.

- Senhor, o seu comprovante - a moça sorridente no guichê.
- Muito obrigado.

Já na rua, notou que a camisa ficara marcada com um traço úmido, que alguns minutos depois, secou.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

La boîte à sourires / A caixa de sorrisos

10h07.->. Salut ! T'as retrouvé ton sourire ?
10h32.<-. Oui. J'en ai acheté une boîte à l'Auchan. ;-)
10h47.->. Pardon, tu parles de quoi? Cette boîte n'a rien avoir avec les derniers messages.
11h10.<-. Une boîte à sourires ! :-)
11h11.<-. Tu en veux 1 ? Il y a encore 11 à la boîte. Et de plus, celle n'est pas chère. Ça fait du bien.
11h12.->. Et t'as déjà utilisé 1 depuis Samedi ??
11h20.<-. Oui.
11h37.->. C'est intéressant mais cette franchise sonne un peu négative à ma maison. Je ne partage pas les choses.
12h50.<-. Franchise ? Partage ? ??? Alors, parlons en Anglais qu'on ne se comprend pas en Français.
16h40.->. We'll speak about that later.
17h00.<-. Ok.
20h17.->. My understand of our SMS conversation. I understood you spoke about condom box. So I asked you: have you used 1 of them since Saturday? You answered: yes. Meaning that you slept with another girl than me. so I said: we don't play the same game and I don't hold these rules.
20h35.<-. Une boîte à sourires ne contient que des sourires...
20h40.->. So I'm very stupid, without a sort of poetry mind, very "terre à terre". And now I'm embarassed. And you can laugh of me :-S.

-*-*-*-*-

10h07.->. Oi ! Você reencontrou seu sorriso?
10h32.<-. Sim. Comprei uma caixa deles no Auchan. ;-)
10h47.->. Perdão, você fala de que? Esta caixa não tem nada a ver com as últimas mensagens.
11h10.<-. Uma caixa de sorrisos! :-)
11h11.<-. Quer um? Ainda há 11 na caixa. E além disso, não é cara. E faz bem.
11h12.->. E voce ja a utilizou desde sabado??
11h20.<-. Sim.
11h37.->. Interessante mas esta franqueza soa negativa aqui em casa. Eu não divido as coisas.
12h50.<-. Franqueza ? Dividir ? ??? Então, falemos em inglês que em francês a gente não se entende.
16h40.->. Conversamos mais tarde.
17h00.<-. Ok.
20h17.->. Meu entendimento de nossa conversa SMS. Eu entendi que você falava de uma caixa de preservativos. Então perguntei: ja usou algum desde sabado? Voce respondeu: sim. Significando que você dormiu com outra além de mim. . Então eu disse: nos nao jogamos o mesmo jogo e eu não concordo com essas regras.
20h35.<-. Uma caixa de sorrisos contém apenas sorrisos...
20h40.->. Então eu sou muito estupida, sem um tipo de mente poética, muito "pé no chão". E agora estou constrangida. E você pode rir de mim :-S.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Eles falam tchuquinôuders

A CHEGADA DE DEUTÉRIO

Eleutério recebe a visita de Deutério, que vem de férias de um país distante para um período de uma semana.

- Como foi de viagem?
- Foi ótimo, aproveitei minhas milhas e vim em classe executiva.

Após deixar as malas no apartamento, decidem sair para jantar. Deutério delicia-se com os pratos da culinária local e um momento de crise muito importante, filosofa sobre nobres frivolidades:

- Sabe, eu simplesmente não sei o que estou fazendo lá naquela merda de lugar. Aqui em Frutchinander é muito melhor. Você realmente está bem aqui.
- Sim.
- Se não fosse pelo dinheiro... ao menos meu trabalho paga meus prazeres. Como este, de estar aqui.
- Este é um motivo para um brinde!

E assim brindam sorvendo assim mais um copo de vichinitchers, a bebida local.

O BAR DA RUA OBROTCHUCAMP

Ao sair do restaurante, Eleutério tem uma idéia:

- Vou te levar para um bar legal. Fica na rua Obrotchucamp. A rua Obrotchucamp é muito legal. A rua Obrotchucamp tem os melhores bares da cidade. A rua Obrotchucamp há mulheres nuas correndo pela rua. A rua Obrotchucamp é o que há.
- Tudo bem, se você diz que é bom, eu acredito. Vamos a rua Obrotchucamp.

Tomaram o trem metropolitano e seguiram assim para a tão bem conceituada rua. Lá chegando, logo encontram um bar interessante, com várias pessoas à frente.

- Quanto é a entrada?
- É gratuita.
- Oooh...

O bar é o Tchugunaidernal. Chão de cimento, esculturas e pinturas na parede. Esculturas? Uma carcaça de automóvel pintada de cores reluzentes pindurada na parede. No piso inferior, a banda internacional do dia de rapazes de cabelo cor-de-fogo tocam instrumentos que chamam de "fôuqui". Rapazes estranhos, som interessante. Esse é o Tchugunaidernal. Por Eleutério e Deutério sentem falta de alguma coisa: bebida. Embora não sejam mais adolescentes, ainda não deixaram o vício dos narcóticos aceitos pelas sociedades ocidentais e seguem para o balcão.

Lá chegando observam uma garota. Não é uma garota bonita pelos padrões de estética, mas tem sua graça: é uma garota com feições típicas de Frutchinander. E o mais importante: notou a sua presença. Mas ela está acompanhada de um rapaz barbudo, Junai, que embora não a toque, transmite todo um ar protetor, seja de namorado ou de irmão mais velho, embora a cor de seus cabelos exclua a última possibilidade:

- Tchugulou! (Oi!)
- Ei! Tchugulou! (Ei! Oi!)
- Tchu tchu tcheg tchuquinôuders ? (vocês falam tchuquinôuders?)
- Pri! (Sim!) - adiantou-se Valquíria (chamemo-la de Val). Junai contentou-se a dizer sim com a cabeça, não passando muita credibilidade.
- Ei! Tchandebaners! (muito bom!)
- Tchu tchu tchanáuers sam kim? (E o que vocês fazem aqui?) - rebate Val.
- (...) - Deutério desembesta a falar.

É notório o tom solene com que Valquíria falava: ela arrumava o cabelo, endireitava a coluna e abria mais os olhos levantando as sobrancelhas, apertando os lábios. Não é todo dia que se fala tchuquinôuders!

E no mais, estão todos encantados com os dois estrangeiros. Eles falam tchuquinôuders, que por si só, já é sinal de respeito e cultura. E ainda falam bem o seu idioma! Como é possível?!

E esse interesse empolga Deutério, que fala e cativa a platéia - de homens - que alimenta suas descrições do misterioso e distante lugar onde vive. Eles o consideram um rapaz corajoso, o que o motiva a falar mais. Mas esta não é a opinião de Val, que agora sente-se deslocada da conversa.

Bem verdade é que Deutério cometeu um erro crasso; desrespeitara a regra clara da sedução: saber ouvir. Que se desdobra em outras atitudes: alimentar a conversa alheia com mais perguntas, e por fim, falar pouco sobre si. Eleutério vê aí uma oportunidade:

- Seus olhos são lindos... de que cores são?
- Depende do dia (risos)... tchu tchu cantritchu? (qual o seu país?)

Eleutério não entende por que, mesmo falando frutchinanderlen, ela insiste falar em
tchuquinôuders.

- Brantchelanders.
- Ah bom?! Brantchelanders?!

Os bonitos olhos de Val brilham: ela nunca tinha visto um homem de Brantchelanders. Mas todos dizem que os homens de Brantchelanders são bonitos. Os homens de Brantchelanders são fogosos. Os homens de Brantchelanders traem suas mulheres. Os homens de Brantchelanders... aaaamiga... eles são de-mais.

- Vamos lá fora?
- E por que não?

No caminho as mãos se tocam. As pontas dos dedos percorreram os braços até encontrarem um pouso seguro em seu pescoço. Ausência de resistência que lhe enchia de coragem. A porta se abre, ela faz que vai para um lado, vai para o outro. Eleutério a segue e por fim toma as rédeas da situação por completo. Agora ele é todo certeza e nada mais impede o desenlace da situação que ela iniciara, mas que ele dirige com maestria. A mão do pescoço escorre pelo outro lado até que o braço a puxa de um só golpe contra seu corpo contra a parede.

Golpes de calor. Línguas que se tocam selvagemente. Ela perde as estribeiras ao realizar um sonho quase erótico: beijar um homem de Brantchelanders. Sem pensar, desceu a mão para as nádegas de Eleutério que não lhe oferece resistência.

Por fim, em uma pausa para respirar, Val tira os cabelos do rosto de Eleutério e confessa:

- Você corresponde exatamente às minhas fantasias sobre os Homens de Brantchelanders?
- Aé? Como assim?

Não ouve tempo para responder. Uma loira atravessa a rua gritando e aproxima-se do casal:

- Hoje é um dia muito importante para mim, é meu aniversário de 30 anos. E vocês são O CASAL DA NOITE! - e cochicha no ouvido de Val - eu vi você passando a mão na bunda dele...

- Se você quiser não há problemas - completa Eleutério, já puxando a mão da garota para suas nádegas. Ela fica sem graça, e volta para o Bar DoOutroLadoDaRua.

FIM DE NOITE

Eis que as horas passam e a noite chega ao fim. Val procura em vão seus amigos naquela fria noite: eles a deixaram só. Ciúmes? Pelo sim, pelo não, terminaram por dar uma força para as intenções veladas de Eleutério.

- Se você quiser... bom... meu amigo já está em casa... a gente pode dormir juntos, mas já adianto que não pode acontecer nada. Meu amigo está por lá...
- Hmm... está bem.

Acordo feito, buscam Deutério que atravessou a rua. Lá está ele no Bar DoOutroLadodaRua.

- Vamos embora?
- Sim!

Eis que na saída, que surpresa.

- EEEEi... o casal da noite! - sim, a mesma garota se aproxima. E como ela é atraente. De cara pergunta:

- E vocês de onde são?
- Brantchelanders...
- Brantchelanders? - e não é que ela desanda a falar brantchelanderlen? Não sem um forte sotaque, que deixa claro que esta não é sua língua materna.
- Como assim?
- Sou filha de Prutchinoudilainers, e lá também falamos uma variação de brantchelanderlen.

Foi paixão a primeira vista: Eleutério, ainda abraçado com Val, não sabia o que fazer, até ter uma idéia: puxando Val discretamente para o outro lado, lança o telefone na mão de Deutério e faz um sinal com a cabeça.

Mas que tristeza! Deutério não entende seu gesto? Deutério está realmente destreinado com as artes da dissimulação. Eleutério beira o desespero: agora os dois - Eleutério e Val lhes olham simultaneamente, e não há nada que ele possa dizer em tchuquinôuders que Val não entenderia. Por fim, desiste do caviar e tenta - não sem contragosto - aceitar a comida que tem no prato: chuchu.

- Vamos para casa.

A CASA DE ELEUTÉRIO

Eleutério explica a Val.

- Olha... você vê que o apartamento é pequeno. Deutério dorme no chão, eu e você na cama. Está aqui uma camisa para você dormir com mais conforto.
- Ok.
- Eu ronco - completa Deutério.

E assim, apagam-se as luzes: Eleutério de pijama, Deutério de saco-de-dormir e Valquíria de camisa e calça jeans. Ao menos até o meio da noite...

O DIA SEGUINTE

Eleutério levanta cedo com Valquíria trocando de roupa.

- Escuta, não quer tomar um café?
- Não, eu como em casa.
- Então está bem.

Acompanha a garota até a porta. Na saída, ela aperta a campainha do vizinho pensando que é a luz. E mais uma vez o rapaz abre a porta para ver o vizinho sem graça esperando o elevador. Ao descer, cumprimenta o porteiro que faz festa - esse é o cara de Brantchelanders!

Na volta encontra Deutério de pé.

- E aí, dormiu bem?
- Sim. Quer dizer, até eu começar a ouvir uns barulhos...
- Eu trouxe pão e aqui tem café.

NO FIM DA TARDE

Valquíria chega ao bar, aquele de frente para o cais, onde já estão todos os seus amigos. Virília, ao vê-la, sorri com comichões:

- E então?
- É ...

Junai, entre uma bebericada e outra, consola-se com Miraí. Ambos com olhar distante, mirando a outra margem do rio:

- É.
- Pois é.
- (...)
- (...)

Junai aperta os lábios com um brilho de estranho contentamento no olhar. Contentamento de descoberta de coisas novas:

- Eles falam tchuquinôuders.