quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Meu querido diário

Pois então,

Começo hoje mais uma nova sessãozinha, "Meu querido diário" (sim, inspirado um pouco por um livro de Bukowski que venho de ler que de tão mal humorado, é engraçado).

Os acentos? Você corrige o que está escrito em seu diário? Oras... enfim, publico sim, e depois corrijo. Intchallah... pourvu que... eu poderia bem deixar o post como "rascunho" e corrigir depois em um teclado QWERTY com todos os meus saborosos acentos, como às vezes faço com outros posts. Mas com esse aqui não: simplesmente porque diferente dos que escrevem em seus diários, não escrevo para não ser lido. Nao, eu não escrevo para mim: escrevo para você, para ser lido agora, no ato, querido leitor inchirido.

Inchirido? Enchirido? Enxirido? Inxerido? Eu ja procurei no dicionário e não achei. Mas essa palavra existe sim, pelo menos pra mim: eu posso até vê-la dançando de tanguinha (vermelha), peitos fartos (topless vermelho) e dizendo com batom (vermelho): "você me ouve, logo existo".

Notas da revisão: é enxerido! Valeu Lou!

Diego! Você sabe: como tudo por aqui, "meu querido diário" é sua também. O que é seu é meu, o que é meu é seu. Ou quase: sem essa de querer pegar no meu e dizer que é seu que isso não vale. Mas pode esvaziar o seu sótão como se você realmente não quisesse que outros lessem, ou os gráficos mais infames que afligem sua alma, como aquela dor-de-barriga que so se acalma quando o bicho sai.

Então eu começo:

Meu querido diário, (escrevo em lápis verde concentrado na caligrafia, olhos esbugalhados e lingua saindo pelo canto da boca).

Dez de dezembro de 2008. Hoje, quando saí do metro, pensei: vou escrever no blog. Um texto quase poético, talvez. Pensei em tom grave: "Entrei no metro era noite, era noite. Quando sai, ja era dia, era dia".

Pronto. Respiração profunda: "sou inteligente! Sou sentimental! Puxa!". Andei mais uns metros ainda na estação, um Napoleão: comigo, ninguém pode. Outra idéia: completar com duas fotos: uma, no breu, às 8h, e outra no claro, às 9:50h. Clic!



Mas eu não tirei a foto às 8h... droga.

O RER hoje estava comportado: apenas 20 minutos de Gare de Lyon até Rueil. Ontem, foi quase 40. Ao menos o maquinista de ontem (ou condutor? Da pra chamar assim alguém que pilota uma alavanca?) tinha bom humor. Ou mal, não sei, mas era engraçado: todo mundo ria com seus anúncios:

- Coragem, senhores passageiros! Aguardamos aqui alguns minutos ainda a saída de um trem a nossa frente em Chatelet.

- Bom, eee... eu vos peço um pouco mais de calma, senhores passageiros, aguardaremos ainda mais uns minutos aqui antes de Charles de Gaule-Étoile. Eu sinceramente não sei a razão pela qual hoje estamos um trem atrás do outro, tão devagar, mas bom, eu vos convido a entrar no site do sindicato dos transportes e deixar uma pequena mensagem com seus sentimentos, dizendo qual é o seu RER preferido. Quem sabe assim alguém faz alguma coisa...

- Apertem os cintos, senhoras e senhores! Agora iremos um pouco mais rápido: incríveis 60 km/h. Atenção!

Sabe? Eu gosto dessas pessoas que conseguem transformar um trabalhinho horrendo em algo diferente, atraente, engraçado. Li em um livro hoje que isso se chama "criatividade". Ele poderia ter se resignado a sua função de conduzir a maquina, mas com sua presença de espírito, fez um monte de gente rir perante o tédio quotidiano. Uma andorinha não faz verão, mas para quem estava naquele trem naquele momento, ele fez diferença.

Trem engraçado e confortável: ontem vim sentado até La Défense. O trem era de dois andares e seguia até Cergy. Em La Défense peguei o habitual, que chegou lotado de gado. Hoje foi um lixo: apertado como sardinha em lata até novamente La Défense. A vantagem é que não havia nenhum músico no trem.

Sabe? No horario de ontem, às 10:30h, o trem já vem mais vazio. Quando eu ouvi aquela voz ("Mesdames, Messieurs, excusez-moi de vous déranger..."), eu ja previ os atos seguintes: a mesma gravação de pianinho. A mesma voz. As mesmas 2 músicas em espanhol. Eu ja devo tê-la ouvido uma dezena de vezes. Sim, a primeira vez eu me emocionei e dei uma moedinha. Mas depois da terceira ...

Ando mais um pouco na estação. Penso de novo na brilhante frase que havia pensado para um post: "era noite, era noite... era dia, era dia"; veio-me a cabeça uma musica do Rappa. Que merda de post. Coisa de fracote sentimental; snif, snif. E ainda sem a foto das 8h. Que lixo de pensamento. Quer saber? Não vou publicar esta merda, quisera eu não ter pensado em coisa tão ridicula. Quer saber mesmo o que eu fiz? Quer saber? Entrei na padaria. Não, hoje não vai ser pain aux raisins. Hmmm... esse baguette com queijo brie fatiado parece interessante...

- Un pain au frommage, SVP (s'il vous plaît)

Ela me entrega não a com queijo fatiado, mas uma baguete de queijo. Déjà vu, parece que estou em Dubai onde ninguém se entende. Tant pis, c'est pas grave, o pão estava gostoso também, quentinho, acompanhando o meu expresso no corredor. Mastiguei-o olhando o frio la fora pela janela: no marcador, 3 graus. Fez-me lembrar que ontem nevou na hora do almoço...

... esta vendo? Isso aqui nunca tem fim: vem uma coisa após a outra. Então paro por aqui, assim, bruscamente.

Um comentário:

iglou disse...

Houaiss mandou dizer que é ENXERIDO.