Começo hoje mais uma nova sessãozinha, "Meu querido diário" (sim, inspirado um pouco por um livro de Bukowski que venho de ler que de tão mal humorado, é engraçado).
Os acentos? Você corrige o que está escrito em seu diário? Oras... enfim, publico sim, e depois corrijo. Intchallah... pourvu que... eu poderia bem deixar o post como "rascunho" e corrigir depois em um teclado QWERTY com todos os meus saborosos acentos, como às vezes faço com outros posts. Mas com esse aqui não: simplesmente porque diferente dos que escrevem em seus diários, não escrevo para não ser lido. Nao, eu não escrevo para mim: escrevo para você, para ser lido agora, no ato, querido leitor inchirido.
Inchirido? Enchirido? Enxirido? Inxerido? Eu ja procurei no dicionário e não achei. Mas essa palavra existe sim, pelo menos pra mim: eu posso até vê-la dançando de tanguinha (vermelha), peitos fartos (topless vermelho) e dizendo com batom (vermelho): "você me ouve, logo existo".
Notas da revisão: é enxerido! Valeu Lou!
Diego! Você sabe: como tudo por aqui, "meu querido diário" é sua também. O que é seu é meu, o que é meu é seu. Ou quase: sem essa de querer pegar no meu e dizer que é seu que isso não vale. Mas pode esvaziar o seu sótão como se você realmente não quisesse que outros lessem, ou os gráficos mais infames que afligem sua alma, como aquela dor-de-barriga que so se acalma quando o bicho sai.
Então eu começo:
Meu querido diário, (escrevo em lápis verde concentrado na caligrafia, olhos esbugalhados e lingua saindo pelo canto da boca).
Dez de dezembro de 2008. Hoje, quando saí do metro, pensei: vou escrever no blog. Um texto quase poético, talvez. Pensei em tom grave: "Entrei no metro era noite, era noite. Quando sai, ja era dia, era dia".
Pronto. Respiração profunda: "sou inteligente! Sou sentimental! Puxa!". Andei mais uns metros ainda na estação, um Napoleão: comigo, ninguém pode. Outra idéia: completar com duas fotos: uma, no breu, às 8h, e outra no claro, às 9:50h. Clic!
Mas eu não tirei a foto às 8h... droga.
O RER hoje estava comportado: apenas 20 minutos de Gare de Lyon até Rueil. Ontem, foi quase 40. Ao menos o maquinista de ontem (ou condutor? Da pra chamar assim alguém que pilota uma alavanca?) tinha bom humor. Ou mal, não sei, mas era engraçado: todo mundo ria com seus anúncios:
- Coragem, senhores passageiros! Aguardamos aqui alguns minutos ainda a saída de um trem a nossa frente em Chatelet.
- Bom, eee... eu vos peço um pouco mais de calma, senhores passageiros, aguardaremos ainda mais uns minutos aqui antes de Charles de Gaule-Étoile. Eu sinceramente não sei a razão pela qual hoje estamos um trem atrás do outro, tão devagar, mas bom, eu vos convido a entrar no site do sindicato dos transportes e deixar uma pequena mensagem com seus sentimentos, dizendo qual é o seu RER preferido. Quem sabe assim alguém faz alguma coisa...
- Apertem os cintos, senhoras e senhores! Agora iremos um pouco mais rápido: incríveis 60 km/h. Atenção!
Sabe? Eu gosto dessas pessoas que conseguem transformar um trabalhinho horrendo em algo diferente, atraente, engraçado. Li em um livro hoje que isso se chama "criatividade". Ele poderia ter se resignado a sua função de conduzir a maquina, mas com sua presença de espírito, fez um monte de gente rir perante o tédio quotidiano. Uma andorinha não faz verão, mas para quem estava naquele trem naquele momento, ele fez diferença.
Trem engraçado e confortável: ontem vim sentado até La Défense. O trem era de dois andares e seguia até Cergy. Em La Défense peguei o habitual, que chegou lotado de gado. Hoje foi um lixo: apertado como sardinha em lata até novamente La Défense. A vantagem é que não havia nenhum músico no trem.
Sabe? No horario de ontem, às 10:30h, o trem já vem mais vazio. Quando eu ouvi aquela voz ("Mesdames, Messieurs, excusez-moi de vous déranger..."), eu ja previ os atos seguintes: a mesma gravação de pianinho. A mesma voz. As mesmas 2 músicas em espanhol. Eu ja devo tê-la ouvido uma dezena de vezes. Sim, a primeira vez eu me emocionei e dei uma moedinha. Mas depois da terceira ...
Ando mais um pouco na estação. Penso de novo na brilhante frase que havia pensado para um post: "era noite, era noite... era dia, era dia"; veio-me a cabeça uma musica do Rappa. Que merda de post. Coisa de fracote sentimental; snif, snif. E ainda sem a foto das 8h. Que lixo de pensamento. Quer saber? Não vou publicar esta merda, quisera eu não ter pensado em coisa tão ridicula. Quer saber mesmo o que eu fiz? Quer saber? Entrei na padaria. Não, hoje não vai ser pain aux raisins. Hmmm... esse baguette com queijo brie fatiado parece interessante...
- Un pain au frommage, SVP (s'il vous plaît)
Ela me entrega não a com queijo fatiado, mas uma baguete de queijo. Déjà vu, parece que estou em Dubai onde ninguém se entende. Tant pis, c'est pas grave, o pão estava gostoso também, quentinho, acompanhando o meu expresso no corredor. Mastiguei-o olhando o frio la fora pela janela: no marcador, 3 graus. Fez-me lembrar que ontem nevou na hora do almoço...
... esta vendo? Isso aqui nunca tem fim: vem uma coisa após a outra. Então paro por aqui, assim, bruscamente.
Um comentário:
Houaiss mandou dizer que é ENXERIDO.
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