terça-feira, 28 de outubro de 2008

Silence

des nuits sans vents
des pâturages plats
des forêts éteintes

Matins de dimanche
des petits villages
entourés de montagnes :
petites voiles
endormis dans la bonace

ô, les déserts
rocher
sable
eau

Vieux foyers
des gens sans amis
des gens sans enfants
des gens sans parents
des gens sourdes
que se turent.

des échos
des chambres vides
des chambres vides
des chambres vides
de ceux qui partirent.

Comme il faut,
sans tempête
lourd, peut-être :
Le temps s'arrête.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Entre meninas e mulheres

O basico:

Fille - menina
Femme - mulher (fêmea)

O respeitoso:

Démoiselle - mulher solteira
Dame - mulher casada

A giria:

Nana - menina (na França). Na Bélgica, esse mesmo nome é usado para bebes do sexo feminino.

"Mec, j'suis allé hier soir au Canal Saint Martin... ah putain! il y avait plein de nana, j'ai tapé trois! Niquel!".

O Duplo sentido:

"Ma pétite coquine" - maneira carinhosa de chamar uma menina pequena, bebezinho. Algo como 'Minha menina sapeca'.

"Ma coquine" - coisas que se fala para a mulher no calor da relaçao sexual, ou depois, para os amigos, tomando cerveja, para se vangloriar como o macho mais macho e sortudo e comedor de todos os machos: "Ma copine est une vraie coquine!" (minha mulher é muito safada).

O antiquado:

Gonzesse - mulher. A palavra certa para se dirigir à companheira quando o homem chega em casa do trabalho e a encontra pilotando apaixonadamente o fogao, ou passando suas camisas: "Ma gonzesse!". Pode ser acompanhado de um tapa na curva negativa do traseiro com a mao esquerda, enquanto a direita alisa o bigode.

Gosse - criança (menino ou menina).

Namoro ou amizade:

amie - amiga.
copine - amiga, insinuando algo mais.
pétite copine - quando se quer deixar claro que é namorada.
femme, épouse - denota alianca com fins reprodutivos.

E o rapaz disse na rádio...

... "aproveitem o dia de hoje: é o ultimo dia da semana com temperaturas acima de 20 graus... e talvez do ano". E terminou com uma risadinha cinica.

(Obs: teclado AZERTY não tem todos os acentos).

sábado, 4 de outubro de 2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Pensamento do dia

Extraído vagabundamente da wikipedia sobre o Mito de Sísifo, de Camus:

Camus vê em Sísifo o ser que vive a vida ao máximo, odeia a morte e é condenado a uma tarefa sem sentido, como o herói absurdo.
Camus apresenta o mito para trabalhar uma metáfora sobre a vida moderna, como trabalhador em empregos fúteis em fábricas e escritórios. "O operário de hoje trabalha todos os dias em sua vida, faz as mesmas tarefas, esse destino não é menos absurdo. Mas é trágico quando em apenas nos raros momentos ele se torna consciente".


... e amanhã, again, metro, RER, trabalho. TRABALHO. trabalho. Ainda bem que ganhei uma bolinha de espuma, que jogo na cabeça dos meus colegas quando eles menos esperam. Eles revidam, e isso sim vale a pena. E me dá um falso gosto para no dia seguinte fazer tudo igual outra vez.

Dia seguinte, não: amanhã é sexta.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Munique: Oktoberfest

E cinco meninas se aproximam da mesa.

- Ei, podemos nos sentar com vocês?
- Que pergunta...

A centro-avante, olhos verdes, olhar profundo e desafiador, riso maroto, vai além.

- Sabe o que é, somos estudantes... minha grana acabou. Só tenho 2 euros e...

O amigo adianta-se às (más)intenções.

- Estudante? Como nós. Espera um pouco - e tenta apresentá-las para os cavalheiros franceses de trás, sempre prontos às gentilezas. Mas um deles acaba de vomitar sobre a mesa.

No Les Echos da última segunda, uma crônica analisa as qualidades de negociador de Sarkozy. Como contraponto, cita uma frase do Cardeal de Retz:

Erigir-se demasiado como negociador não é sempre a melhor qualidade para a negociação.


Pelo sim pelo não, erija-se o negociador, estilo Sarkozy. Pagar pra ver: moedinhas sobre a mesa. As meninas bebem. Paguei e vi: o garoto alemão ao meu lado, que por falar alemão, já está em vantagem na luta darwiniana (que aqui, em um ambiente tão selvagem, não é muito complexa). A garota se aproxima. Eles se beijam. Beijo de língua.

Hora de foto: stop no beijo e abraço em quem estiver do lado - eu. Abraço generoso, mão na cintura. O alemão aperta o nariz na orelha (dela).

Fim de foto, fim do caneco. A garota se levanta (e isto é muito importante: as mulheres tomam a atitude).

- Vou no banheiro.

Toma o alemão pelo braço. Explica em inglês, olhos nos olhos (meus). Munique em chamas.

- We are going together. Same bathroom.

Vão juntos? Parabéns. Os dois de pé. Beijo de língua. Um aperto aqui. Outro aperto ali. Movimento inesperado: ela (sempre ela) se volta para a mesa e puxa minha mão.

- You come with us. - menina decidida.

Levanto os ombros para o rapaz. Ele me olha. Olhar eloquente: "É rock".

Não é rock. É tradicional: Hei Prosit, Hei Proosit... todos cantam nas mesas ao lado. Eu não. Nem ela. Nem ele. Zigue-zague. Com a mão esquerda ele acaricia a orelha esquerda dela. Com a mão esquerda, ela alterna movimentos de apertar e soltar em minha já suada palma da mão direita. Com a mão esquerda... com a mão esquerda não faço nada: balanço natural de quem caminha.

Herren Pissoir. Chegamos. Tem Herren demais aqui. Alemães, italianos, irlandeses fazem fila desde a entrada sem portas com o falo na mão à espera de uma brecha no mictório. Linha de montagem. Do único recinto privativo, cheiros acres que escorrem pelo chão.

Ela olha um segurança. Idéia - menina criativa.

- Ei! Quero sair lá fora.

Deve ser isso que ela disse. Ele estende um tíquete.

- Eu e eles. - mãos para trás, olhar inocente pra cima, olhar ingênuo para o infinito.

- Não, não. Só você. Os três juntos, não. Se sair não voltam.

Manha de garota: duas mãos puxando o braço do segurança. Mas este faz jus a sua bermudinha de couro e à meia que sobe até o joelho.

- Não.

Voltamos a mesa. Meia hora depois, as amigas decidem que é hora de amiguinha ir embora - amiguinhas decididas.

Bitoquinha em mim, selinho em outro, beijo de língua no alemão. Por fim, nem fomos ao banheiro. Que pena: é sempre confortante fazer xixi entre amigos. Fica para a próxima.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A despedida de Christophe

Sexta-feira, meio-dia. No meio do caminho do restaurante, lembrança.

- Ei, não é hoje a despedida do Christophe?
- Hmm... é mesmo... então... mas voltar lá...
- Mas o cara avisou...
- Mas o cara é chato...
- Mas fica chato não ir...
- ... está certo, vamos lá falar um oi.

Adentrando a sala, as pessoas ali formavam um círculo silencioso. Elas não respeitaram o Casual Day e vieram todas de terno e gravata, o que nos deixava décontractés para a ocasião.

Silêncio. Christophe serve-nos copos de um espumante vermelho e volta ao seu posto no centro da sala. Silêncio.

Discordo que ele seja chato: sendo consultor de grande empresa, é pago para se comportar assim, calado, e-mails pontiagudos, apenas perguntas e nenhuma abertura sobre si. Mas ali no centro da sala, após um ano de projeto, não escondia o seu desconcerto: oferecia uma festa de despedida, pagava as bebidas, e notoriamente todos que ali estavam o faziam por pura educação.

Silêncio. Seu desconcerto combina bem com a gravata cuja ponta não passa do umbigo. Gravata que lhe conferia melancolia inaudita e inesperada simpatia. Era a prova: aquele ali também não era o seu lugar. Contudo, possuía característica essencial para a continuidade dos negócios: constância. O padeiro que levanta a porta diariamente às 7h; o operador de trem que tira a locomotiva da garagem no horário previsto; o professor que inicia sua aula pontualmente. Christophe com sua gravata acima do umbigo.

Som de espuma. Abre-se mais uma garrafa de champanha. O rapaz se aproxima com 2 garrafas. A cor vermelha se explica:

- Ah, um toque de licor de cassis!
- Kir.
- Mais precisamente, Kir Royal - completa outro.

Kir Royal, benção ao álcool. Estamos em pleno Ramadã, mas isto aqui é França, Estado laico. O torpor torna todos altruístas e assim, em questão de minutos, todos concordam que o silêncio em uma festa de despedidas é no mínimo embaraçoso, e agora todos falam e riem desinibidamente, entre um palito salgado e um amendoim.

- Quanto custa mesmo a licença deste logiciel?
- Quatrocentos mil euros.

Fazia um tempo bonito lá fora, mas com uma brisa fria cortante. O verão já se foi. E após uma semana cinzenta de chuvas, quantas cores! Mas era de comum acordo no recinto que o mais elegante seria falar de coisas importantes:

- Bom... então precisamos fazer valer, e amortizar o custo. Quando entra o primeiro módulo em produção?
- Maio de 2009.

E entre um comentário e outro, risos de empolgação. Menos Christophe, que continuava no canto da sala, sorriso apático; a indiferença sincera.

Puxamos a última batatinha, o último gole de kir royal. Um aperto de mão.

- Bom, depois você passará pelo andar para se despedir, certo?

Christophe limitou-se a sorrir. Foi a última vez que o vi.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Agora chega

Afinal, Paris não é só Torre Eiffel. Há muitas torres na cidade...



... e há sempre uma maneira diferente de olhá-las.




Ou de não as olhar...

Mas eu prefiro...

... quando a ela aparece na foto meio sem querer.



Mas tudo bem se a sua aparição é intencional:

De dia

Você quer foto?!
Você acha que Burj Al Arab "é muito melhor"?!
Você quer mesmo ir pra Dubai?!?!



Ta gueule!

Parisian blues

Os incompreendidos

Não, este não é um post sobre o primeiro filme de Truffaut do ciclo Doinel com Jean-Pierre Léad. É apenas para dizer, em tempo, que essa história de que francês "não gosta" e "é grosseiro" com quem não fala francês é uma dessas lendas urbanas, que pertence a mesma família de generalizações como "argentino é todo filho-da-puta", "todo brasileiro é vagabundo", "toda brasileira é puta", "todo indiano fede" (e como!), e por aí vai.

Eu tenho uma teoria: a grosseria que alguns turistas experimentam em território francês, especialmente em Paris, deve-se mais a uma questão de percepção do tempo de cada um, a um problema linguístico em si.

Explico: franceses, em geral, valorizam MUITO a polidez no trato com desconhecidos. Isso se expressa na forma como se inicia uma conversa. Ela sempre é iniciada com calma, com o tempo de um "Bom dia":

- "Bonjour!".

Só então, é que se pede permissão para perguntar algo:

- "Excusez-moi...".

E na hora de perguntar algo, usa-se sempre o vous com quem não se conhece.

O que um turista não entende é que desrespeitar esse protocolo é tão chocante para um francês como alguém aí no Brasil te abordar na rua usando palavrões, assoando o nariz ou coçando o pinto.

E o turista é mesmo uma "raça porca": (Mal) acostumado com a infantilização da estrutura turística em que tudo tem um preço e todos são seus servos prestes a lhe oferecer um deleite, esquece-se quem mesmo em um lugar turístico, há pessoas normais, que não são trabalham com turismo, e que não têm nenhuma obrigação em saber tudo o que se quer saber.

E o turista "chega chegando" no francês, no tempo cibernético, com a rapidez de um envio de um e-mail, de uma compra de ações na bolsa:

- "Hey, do you know where is..."
- Bonjour...

Bonjouuuur... Essa é a resposta-padrão de um francês quando é abordado de maneira que considera grosseira por um estrangeiro.

Mas não precisa falar francês para ser respeitado: basta seguir o protocolo, em inglês mesmo:

"Good morning!",
"Do you speak English?",
"Could you help me?"...

... tudo isso sem pressa, no tempo de quem toma um expresso contemplando a cidade. E não se espante se ele não responder: nem todo francês fala (bem) inglês. E quem não fala, é complexado com isso. É claro que a quantidade de franceses que falam inglês é proporcionalmente maior que no Brasil, mas não espere lá muita coisa...

"I speak Wall Streat English". Yes!!!

Com vocês, a fixação tardia dos franceses pela língua inglesa...




Mas estas aqui, mais recentes, são as mais cômicas:




Parem de massacrar o inglês!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Fraternité: Île de la Cité

Um longo veículo preto se aproxima lentamente do semáforo, janelas cobertas por cortinas prateadas. Um antigo Peugeot 206 vermelho é o único que não o ultrapassa.

Sinal vermelho: o veículo preto pára, o rapaz que conduz o Peugeot também. Mãos trêmulas sobre o volante, barba de 2 dias, olhos vermelhos. A espera precipita o choro, choro de soluços, soluço forte que parece sorriso.

Sinal verde. O veículo preto avança, o senhor de olhos vermelhos avança também. Do outro lado da rua, um senhor descansa dentro de outro veículo com a porta aberta, rádio ligado, programação ou propaganda governamental. Quem ouve acompanha mentalmente:

Allons enfants de la patrie
Le jour de gloire est arrivé


Sob a ponte, a água que passa a cada instante jamais é a mesma. Mas o Sena segue em seu leito. Permanente. Imponente. Eternamente.

+++
Une longue bagnole noire s'approche doucement du feu, fenêtres couvertes par des rideaux argentés. Une ancienne Peugeot 206 rouge est l'unique que ne le dépasse.
Feu rouge: le voiture noire s'arrête, le gars que conduit le Peugeot aussi. Des mains tremblants sur le volant, barbe de 2 jours, les yeux rouges. L'atteinte précipite le pleur, pleur de sanglots, sanglot aussi fort qui rappelle un sourire.

Feu vert. La bagnole noire avance, le gars des yeux rouges avance aussi. À l'autre coté de la rue, un autre gars prend son temps dans une autre bagnole, radio allumé, programmation ou publicité étatique. Ceux qui l'écoute, le suivent mentalement :


Allons enfants de la patrie
Le jour de gloire est arrivé


Sou le pont, l'eau qui coule chaque instant n'est jamais la même. Et pourtant, la Seine suit son lit. Permanent. Imposant. Éternellement.