- Ei, podemos nos sentar com vocês?
- Que pergunta...
A centro-avante, olhos verdes, olhar profundo e desafiador, riso maroto, vai além.
- Sabe o que é, somos estudantes... minha grana acabou. Só tenho 2 euros e...
O amigo adianta-se às (más)intenções.
- Estudante? Como nós. Espera um pouco - e tenta apresentá-las para os cavalheiros franceses de trás, sempre prontos às gentilezas. Mas um deles acaba de vomitar sobre a mesa.
No Les Echos da última segunda, uma crônica analisa as qualidades de negociador de Sarkozy. Como contraponto, cita uma frase do Cardeal de Retz:
Erigir-se demasiado como negociador não é sempre a melhor qualidade para a negociação.
Pelo sim pelo não, erija-se o negociador, estilo Sarkozy. Pagar pra ver: moedinhas sobre a mesa. As meninas bebem. Paguei e vi: o garoto alemão ao meu lado, que por falar alemão, já está em vantagem na luta darwiniana (que aqui, em um ambiente tão selvagem, não é muito complexa). A garota se aproxima. Eles se beijam. Beijo de língua.
Hora de foto: stop no beijo e abraço em quem estiver do lado - eu. Abraço generoso, mão na cintura. O alemão aperta o nariz na orelha (dela).
Fim de foto, fim do caneco. A garota se levanta (e isto é muito importante: as mulheres tomam a atitude).
- Vou no banheiro.
Toma o alemão pelo braço. Explica em inglês, olhos nos olhos (meus). Munique em chamas.
- We are going together. Same bathroom.
Vão juntos? Parabéns. Os dois de pé. Beijo de língua. Um aperto aqui. Outro aperto ali. Movimento inesperado: ela (sempre ela) se volta para a mesa e puxa minha mão.
- You come with us. - menina decidida.
Levanto os ombros para o rapaz. Ele me olha. Olhar eloquente: "É rock".
Não é rock. É tradicional: Hei Prosit, Hei Proosit... todos cantam nas mesas ao lado. Eu não. Nem ela. Nem ele. Zigue-zague. Com a mão esquerda ele acaricia a orelha esquerda dela. Com a mão esquerda, ela alterna movimentos de apertar e soltar em minha já suada palma da mão direita. Com a mão esquerda... com a mão esquerda não faço nada: balanço natural de quem caminha.
Herren Pissoir. Chegamos. Tem Herren demais aqui. Alemães, italianos, irlandeses fazem fila desde a entrada sem portas com o falo na mão à espera de uma brecha no mictório. Linha de montagem. Do único recinto privativo, cheiros acres que escorrem pelo chão.
Ela olha um segurança. Idéia - menina criativa.
- Ei! Quero sair lá fora.
Deve ser isso que ela disse. Ele estende um tíquete.
- Eu e eles. - mãos para trás, olhar inocente pra cima, olhar ingênuo para o infinito.
- Não, não. Só você. Os três juntos, não. Se sair não voltam.
Manha de garota: duas mãos puxando o braço do segurança. Mas este faz jus a sua bermudinha de couro e à meia que sobe até o joelho.
- Não.
Voltamos a mesa. Meia hora depois, as amigas decidem que é hora de amiguinha ir embora - amiguinhas decididas.
Bitoquinha em mim, selinho em outro, beijo de língua no alemão. Por fim, nem fomos ao banheiro. Que pena: é sempre confortante fazer xixi entre amigos. Fica para a próxima.
Um comentário:
Po Luisão,
Quase que rola um sanduba hein!
As situação "não tradicionais", por assim dizer, realmente não te abandonam.
Abração,
Flavião.
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